quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Flores que Murcham


Acabei de assistir um filme novo. Um pequeno curta-documentario passado no interior do Rio Grande do Norte que retrata a rara doença de Spoan, doença degenerativa que afeta pessoas que nascem da procriação entre pessoas de mesma família, como primos e irmãos.
Talvez o filme, intitulado “Flores que Murcham” (inspirados num poema de um jornalista potiguar), não seja visto por muitos. Talvez até, apenas por quem acabou de assistir o programa “Revelando os Brasis” no canal Futura, porém acredito que ele tem o poder de tocar profundamente quem tiver a oportunidade de assisti-lo.


Dirigido e idealizado por Antonio Filho, um morador de Serrinha dos Pintos, uma das cidades em que o filme foi rodado, o curta teve o estimulo e patrocínio da instituição privada Marlin Azul, a partir de um projeto que da apoio a produção cinematográfica amadora em municípios brasileiros com menos de 20 mil habitantes, que, com apoio do canal "Futura", após serem concluídos (quando selecionados), são televisionados num programa especial chamado "Revelando Brasis" dentro do canal Futura.

“Flores que Murcham”, é uma metáfora que se refere as pessoas que possuem a doença de Spoan e seus respectivos sonhos, que mesmo que infelizmente, dificilmente "desabrocham", são eles dão força a elas. As pessoas que tem a doença nascem aparentemente "normais" e saudáveis, porém, conforme vão crescendo e se desenvolvendo, vão perdendo parte da visão, a possibilidade de andar e tem oscilações na fala. Todavia, suas mentes não sofrem nenhuma ação da doença em si. na grande maioria das vezes vivendo de utopias e dependendo de amigos e familiares para seu sustento e carinho.


O curta me lembrou muito o filme “A gente é para o que nasce” dirigido por Roberto Berliner Leonardo Domingues, que retrata a vida de três mulheres cegas, também nascidas no sertão brasileiro, que mesmo com suas dificuldades físicas e financeiras, seguem um sonho, explorando uma vontade e talento mútuos, o de cantar. Mas não por semelhança na doença, mas como ambos os filmes retratam historias relacionadas com alguma deficiência, dificuldades sociais e afetivas que algumas pessoas têm de passar sem ter muito o que fazer, lembrei-me das sensações e reflexões que tive após ter assistido o longa, que foi muito parecida com a do curta que vos falo.
Filmes como esses, nos despertam nosso lado mais humano. Podendo servir não só para sabermos mais sobre nossa raça e mundo, como para valorizarmos mais o que cada um tem. Faz nos repensar e questionar um pouco de toda a alienação e pressão que a sociedade nos impõe, e nos voltarmos mais para nossa essência,. Trazendo mais humildade em nossos corações e ações para com os outros.

Através do filme, refleti também como o sistema capitalista pode ser duro e alienador. Porém, o mais importante em identificar, é que ele é algo inventado, um sistema que, ditado por alguns e seguido por outros, uma modo de vida foi inventado, uma pode ter nascido, mas nada disso é "real". Não podemos nos deixar sentir pressionados, nos limitando e nos bloqueando, e desistirmos dos nossos sonhos por alienações publicitárias (no mundo atual, faz-se necessário filtra-las), mas sim agradecer o que temos, colocar nossos pés no chão, e mantermos nossos sonhos nas alturas, pois na maioria das vezes, são eles que nos movem e que nos dão força de viver.

Poema:

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa
(Ricardo Reis)

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.


O Projeto

O projeto que deu origem ao filme se realiza primeiramente através de uma seleção de historias enviadas para o endereço do programa no canal Futura, adiante, são escolhidas historias e roteiros para serem patrocinados pela iniciativa, que produz curtas que vão de ficção a documentários, o que torna o sonho de muitos, realidade então. Proporcionando ao espectador do canal conhecer mais sobre a diversidade cultural e geográfica do país, alem do imaginário dos participantes, e o impacto da produção dos curtas nas comunidades em que são realizadas.



1 comentários:

Anônimo disse...

Acabei de assistir a reprise do Flores Que Murcham na TV Futura. Realmente, o documentário me proporciona conhecer um pouquinho mais da minha terra e das necessidades que nela existe. É triste e me ajuda a pensar sobre o que é realmente importante para mim. Outra coisa que penso é que o pais, as instituiçoões científicas e de pesquisas, tem a responsabilidade de estudar essa "doença", o que estamos fazendo?