quarta-feira, 22 de setembro de 2010

"A Grande Teia e os fenômenos coincidênciais"


É até gozado como as coincidências (fenômenos aparentemente casuais) podem e mexem tanto com a gente... e não é por menos. Esses sinais do acaso, interferências, fragmentos que parecem interligarem-se de alguma forma maior - por vezes podendo até gerar "surpresas", riso e até medo - são sensações ou acontecimentos que envolvem desde pequenos pensamentos ou sonhos, até adventos que vão sendo desencadeados aleatoriamente no decorrer dos nossos passos diários.


Esboçando certo sentido no misterioso contexto do destino, as coincidências abordam questões muito mais abrangentes e interessantes do que talvez passam parecer. Esses "acontecimentos", notados ou não, parecem apontar uma estranha, porem fascinante, sintonia na realidade e no tempo; no desenrolar, e no curso natural das coisas. Observando desde pequenos acontecimentos "coincidênciais" até o que podem parecer impressionantes surpresas de sintonia no acaso, as coincidências podem nos apresentar uma comunicação natural e universal com o todo, uma sintonia com o tempo e o espaço na qual todos e tudo está inserido em meio a uma grande vibração cósmica da qual não só fazemos parte, como também podemos interferir através dos nossos pensamentos e atitudes.


Nossos pensamentos, que normalmente são derivados de conhecimentos, vontades, sonhos ou percepções -tendem a provocar, estimular e/ou atrair aquilo que mentalizamos e buscamos através de nossas atitudes. O que de certa forma, também pode nos dar alusão a chamada sincronixidade, que pode ser entendida resumidamente como: "coincidências de significação", adventos que imperam através de uma sinergia de amplitude cósmica que podem ser desencadeados através dos nossos próprios pensamentos; da vibração que eles podem emitir, e da energia similar que eles tendem a atrair.


Isso pode acontecer desde quando estamos focados e/ou pensando em algo de forma positiva (buscando seja o que for) - e consequentemente atraimos e enxergamos em pequenos detalhes ou acontecimentos durante o nosso dia, coisas que nos aproximam desse objetivo (que podem ser vistas como coincidências), ou quando de forma negativa - parece que só nos repelimos desses objetivos; até pequenos exemplos como quando estamos pensando em algo, como numa banda ou musica por exemplo - mesmo que de forma inconsciente - e a musica de repente toca no radio, quando estamos pensando numa pessoa e de repente ela te liga, ou começa a lembrar dela através certas coisas que acontecem no seu dia. Enfim... as possibilidades são infinitas.


Nesse sentido, é possível dizer que se prestarmos mais atenção nesses fenômenos, podemos constatar que esses pequenos adventos diários podem nos ajudar a compreender muitas das trilhas das nossas vidas, nos trazendo e nos indicando uma grande luz capaz de iluminar os mais escuros caminhos, assim como entender que estamos englobados numa gigante, e talvez infinita: Teia - na qual tudo está plugado entre si. Portanto, sejamos fugazes, atentos e espertos, a fim de sermos capazes de decodificar certos nuances da nossa existência para então caminhar mais sabiamente em meio a infinita trilha labiríntica universal. (A Grande Teia).




Dicas de livros que abordam o tema:

JUNG, Carl Gustav. Sincronixidade

REDFIELD, James. A Profecia Celestina

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Em meio ao Blackout: A vida sem eletricidade.

Estamos tão adeptos e dependentes das novas tecnologias que mal paramos para pensar o que faríamos se em algum momento, por alguma circunstancia, não pudéssemos mais usufruir da maioria delas. E isso poderia acontecer sim, por um simples, porem imenso fato: a falta de eletricidade.

Pense o que seria do mundo atual sem eletricidade? A sociedade contemporanea já possui uma cultura tão regida por tecnologias e meios que dependem da eletricidade que dificilmente se adaptaria sem ela.

Dia a dia são inventadas, criadas e lançadas “n” tipos de tecnologias diretamente derivadas da eletricidade, e muitas delas começam, em massa, a fazer parte das nossas vidas. Realmente estamos vivendo uma revolução tecnológica! Então friso: Como sobreviveria hoje a sociedade mundial sem essa tecnologia primaria que é a eletricidade?

E ainda tem mais, além desse ponto, que a meu ver, é a principal dependência humana dentro da sociedade contemporânea, ainda existe outro grande assunto que é outra grande dependência similar a ser discutida: As ondas...

Se os maias estiverem certos (assim como estiveram em tantas outras premonições), em meados de 2012 acontecera um fenômeno chamado: explosão solar, que alem de deixar o céu global com aparência de uma aurora boreal permanente, interromperia todo o sistema de transmissão ondas no planeta. Então penso e pergunto de novo: como a sociedade mundial lidaria, do nada, SEM:> Telefone, Internet, Radio, Televisão, etc, etc?

Considerando que esses são meios de comunicação de massa que dependem diretamente da eletricidade e da tecnologia que transmite as ondas, seriam essa possibilidade, mesmo que improvável, um caos anunciado caso não começarmos a pensar e fazer algo sobre o assunto? Será que ainda há tempo pra isso? E não metaforicamente também penso:

Viveremos então dentro do celebre livro de Saramago (“Ensaio sobre a Cegueira)?

Continuando...

Neste exato momento - em que escrevo este texto - dependo totalmente da luz do meu NOTEBOOK para fazer ou achar qualquer coisa dentro do meu pequeno apartamento... que carreguei, (O Note), antes da queda de energia na: TOMADA. Tomada qual - antes carregou também meu: CELULAR. Que foi o que gerou então luz para - eu poder subir até meu apartamento. Apartamento o qual também não tem: nenhuma vela.

E nesse mesmo momento, já estou imaginando que a eletricidade logo vai voltar - tomara que logo (olha a dependência)-, pois mesmo com o habito e a possibilidade de escrever este texto num objeto tecnológico que ainda tem alguma bateria - como nos salvaríamos do tédio que a falta de energia nos causaria? (Só mesmo sendo algum dos personagens dos livros de Guimarães Rosa pra nos salvar... e muitos amigos em volta também).

Também estou pensando que, já já vou ter INTERNET de novo, e que então vou poder postar meu texto pela manha para poder também transmiti-lo a outras pessoas. - pois isso é algo que estou extremamente habituado também.

O contexto vai tão alem que se pararmos pra pensar em como funciona nosso comportamento devido as tecnologias que nasceram com a da eletricidade e foram incorporadas a nossa cultura que nem consigo imaginar como nos adaptaríamos caso isso acontecesse. Certamente um estado de calamidade global certo?

Outros questionamentos: Imagine como viveríamos de repente sem um supermercado (comercio qual depende da eletricidade em vários aspectos), sem geladeira, imagine o mundo atual sem geladeira?! Quantas vidas também não seriam perdidas sem os hospitais, sem seus aparelhos! As ruas sem semáforos... Em fim, se eu continuar exemplificando dados do caos esse texto seria infinito.

Mas continuando... (tom de assustado!)

Ao mesmo tempo em que essas novas tecnologias podem nos aproximar virtualmente, ou seja, nos permitindo essa grande capacidade de nos comunicarmos uns com os outros mesmo que a distancia, quão solitários estamos ficando.

Nosso comportamento social é tão influenciado pelas novas tecnologias que estamos cada vez mais nos comunicando virtualmente, e conseguintemente: distanciando-nos dos outros fisicamente. E isso não se resume apenas ao telefone ou a internet, mas a invenções teconlogicas como o Ipod também, em que, mesmo com a oportunidade de ouvir nossas musicas prediletas através de um pequeno aparelhinho que podemos guardar no bolso, estamos indissociavelmente nos isolando dos outros e do que está acontecendo a nossa volta. Isso pra citar apenas um exemplo.

Enfim, acho melhor parar por aqui, pois mesmo com vontade de continuar, a bateria do meu notebook está acabando, e imagine se a eletricidade não voltar logo e eu precise ir ao banheiro no meio da noite. Como vou enxergar a privada sem uma única vela ou lanterna por perto? Bom, talvez vá tateando as paredes e objetos, encontre-a, e solucione o “probleminha” sentando na privada ao invés de fazer em pé, outro habito cultural. Porém imagine agora um problema de verdade que dependa diretamente da eletricidade para ser resolvido, e que a solução não seja encontrada rapidamente, ou mesmo que seja encontrada, não possa ser compartilhada por que não existe mais eletricidade ou ondas para que funcione televisão, radio ou telefone?

Hummm, ta ai um grande... ou melhor: gigantesco paradoxo contemporâneo para se refletir.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Tecnologias comunicacionais, cultura e internet.

Desde os primórdios da vida humana em sociedade, toda grande descoberta ou invenção de caráter tecnológico, como por exemplo: a linguagem, a escrita, ou a matemática, contribuiu para algum tipo de evolução cultural. No século XX, pode-se dizer que a eletricidade é o maior exemplo disso. Pois foi a partir desta descoberta, num processo evolutivo que gerou uma série de outras invenções, que o comportamento da população mundial foi modificado significadamente. Desde a iluminação elétrica em grande escala nas cidades, até a criação das maquinas e, mais futuramente a mídia de imprensa (como a TV e o Radio), as sociedades de todo planeta foram diretamente influenciadas e sujeitas a grandes adaptações comportamentais.

Atualmente, meados dos anos 2000, com a chegada, evolução e popularização da Internet, esse fenômeno virtual de comunicação de tamanha abrangência (que nasceu da vontade e experimentalidade muitas vezes utópica de profissionais das tecnologias da comunicação e seres comuns que transcenderam suas próprias metas), não foi diferente. Analisando suas utilidades e impactos, pode-se constatar também que uma enorme revolução está acontecendo em termos de crescimento e desenvolvimento cultural.

Nesse sentido, similarmente com o que aconteceu após a invenção da maquina, inúmeras discussões filosóficas sobre as conseqüências, como as mudanças comportamentais e os reflexos sociais conseguintemente, vem surgindo; debates vem acontecendo, e ao que tudo indica, uma nova revolução informacional e mercadológica também começou.

Tal revolução é um assunto freqüentemente em pauta, tanto entre as teorias culturais acerca dos meios de comunicação, como na boca do povo, e até mesmo dentro da própria Internet, onde inúmeros movimentos e correntes pensadoras já deliberam suas posições. Alguns contra, como o neo-luddismo, alguns a favor, como o techno-utopia, e outros tentando achar um consenso (se isso for possível), como o technorealism, entre outros, a fim de criar limites ou estudar os impactos que ela vem atingindo.

Sobre o desenvolvimento da cultura digital, o autor Manuel Castells assinala: “Os sistemas tecnológicos são socialmente produzidos. A produção social é estruturada socialmente. A Internet não é exceção.” Considerando a evolução tecnológica no sistema de redes (que nasceu do sistema das telecomunicações), e de seus instrumentos de utilização conseqüentemente (a informática), muito mudou e ainda está por mudar na vida social do ser humano.

Paradigma Virtual

Com a massificação da rede, engendrou-se um novo paradigma que diz respeito à maneira como nos comunicamos. Através da rede virtual, uma nova conversação global emergiu através da cibercultura (cultura digital). Permitindo aos indivíduos, sem exceção de classes (desde que esses tenham acesso à rede), novas maneiras de compartilhar informações e conhecimentos. Algo que é muito defendido por aqueles que são a favor que a internet continue como está (“sem fronteiras”), como por exemplo, os responsáveis pelo manifesto “The Cluetrain".

Com revolução tecnológica dos anos 2000, e conseguintemente, a informacional que, principalmente através da internet proporcionou a possibilidade de qualquer individuo com acesso a rede mundial de computadores em se comunicar com outros de forma interativa e gratuita, milhões de indivíduos passaram a redigir e compartilhar conteúdos que podem ser comunicados a qualquer outro individuo que, também com acesso a rede e com interesse pelo assunto, não só recebe tais conteúdos, como muitas vezes também pode interagir com o individuo que os emitiu. O que ocasionou, alem de uma troca de informações com uma liberdade de expressão jamais vista antes, a queda do poder midiático antes detido apenas pela imprensa e grandes corporações.

Nesse sentido, e, considerando que a internet, inevitavelmente já faz parte da cultura contemporânea, inúmeras questões que abordam contextos como: o comprometimento com a moral e a ética das informações emitidas na rede, ou o embate entre a liberdade da troca de arquivos como musicas e filmes e os direitos autorais dos artistas, por exemplo, vem sendo levantadas. Tais questões, tem demandado dos poderes legislativos deliberarem de forma justa, leis que, ao mesmo tempo, estabeleçam certa ordem no meio virtual sem comprometer a liberdade de expressão, e conseguintemente, possibilidade de comunicação entre os indivíduos através da internet. Entretanto, são questões relativamente novas que também demandariam regras extremamente difíceis de serem aplicáveis e controladas, já que a internet se desenvolve pelo próprios usuários, ou melhor, por centenas de milhões de usuários ao redor do mundo que podem acessar e compartilhar conteúdos de diferentes lugares do mundo sem se identificar. O que nos leva a perceber também, que a internet é muito mais que apenas mais um meio de comunicação, mas uma tecnologia que atingiu escalas globais e está a transformar o comportamento da população do planeta em diferentes aspectos.

sábado, 21 de março de 2009

Tropa de Elite : O cinema como Obra Aberta

A Obra Aberta e o Cinema.

Segundo Humberto Eco: "a obra aberta seria a incorporação intencional da ambigüidade no processo de criação." A obra em movimento (cinema) é aquela que deixa ao interprete a possibilidade de escolher dentre as seqüências possíveis. Comunicar algo diverso do que se pretende é possível em qualquer modalidade de comunicação e o ruído é um fato.

O meio (cinema) é aparentemente aberto, mas pode dificultar a criação artística porque se submete as mais variáveis interpretações do fruidor em meio à sociedade, cultura e “visões” dos mesmos ao interpretarem a obra e os temas que a mesma aborda.

Alem de entreter o espectador, a obra “aberta” possui caráter critico e questionador intencionado a gerar opiniões próprias do interprete, esboçando-se como uma realidade “paralela” que nos leva a pensar e refletir a mesma abertamente.

A obra aberta, mais do que qualquer atribuição, pode ser concebida e mostrada na mídia, devido liberdade de criação e expressão que se tem hoje na sociedade, o que muitas vezes, resulta por contradizer certos valores e inclusive leis sociais, adquirindo poder ambíguo na fruição do interprete.

O diretor de uma obra cinematográfica não pode ter segurança de que sua mensagem será interpretada pelo público na exata forma com a qual gostariam, e o resultado disto é evidente: as informações e ruídos exibido nas “películas” são qualitativamente idênticos.



Tropa de Elite enquanto Obra Aberta

Alem do desejo de realizar a obra em si, os criadores e idealizadores de “Tropa de Elite”, encabeçados pelo diretor “José Padilha”, buscaram chamar atenção do publico para o holocausto social nas favelas do Rio de janeiro, gerando atenção, opiniões e questionamentos e discussões sobre os temas abordados.

O filme foca-se na violência, na deficiência do sistema policial, no combate ao trafico de drogas, e nas corajosas e arriscadas tentativas de voluntários na implantação de um sistema educacional e cultural que traga novos referenciais, valores, informações e oportunidades para quem vive nas favelas.

Analisando Tropa de Elite, percebe-se que, por se tratar de uma obra aberta, pode ser fruído em diferentes perspectivas porem, pela capacidade de analise de muitos jornalistas e o filme explorar um tema tão atual e evidente no momento em que foi veiculado, não foi recebido ou aceito por todos nessa perspectiva. A repercussão após o lançamento do filme gerou grande polemica na mídia, o que era intencionado e já esperado, entretanto, questionando muito mais o posicionamento de seus criadores na autoria da obra, do que a situação real do tema ilustrado, quando na verdade, o filme é uma obra de ficção que imita, não de forma verossímil, mas sim através de um roteiro inventado: uma tragédia inspirada na realidade cotidiana que tem o intuito de levantar questões problemáticas da sociedade que induzem o espectador a criar opiniões que reflitam o caos urbano nas periferias brasileiras.

O filme sim, foi inspirado em fatos que acontecem nas favelas do Rio de Janeiro, porém, o maior erro de parte da critica, foi o de “concluir” precipitada e erroneamente que a ideologia e o comportamento de seus personagens (como por exemplo: o protagonista “Capitão Nascimento”) com o de seus criadores (“José Padilha”). Alguns críticos, ignorantes na leitura e julgamento de uma obra de arte como a em questão, foram capazes de dizer que, José Padilha, fazia apologia ao fascismo, confundindo a capacidade poética do criador, com o protagonista de seu filme. Obs.: Isto seria como dizer que “Francis Ford Coppola” é Don” Vito Corleone, o que então estaria fazendo apologia a “Máfia”.

Portanto, considerando as inúmeras mediações que regem em cada espectador na fruição de um filme, relativos às suas respectivas culturas, conhecimentos, experiências e preconceitos, “Tropa de Elite” fatidicamente não tende a ser interpretado da mesma maneira por todos, mas por ser uma obra aberta, gera as mais variáveis interpretações, opiniões e posicionamentos diante do tema abordado. Porem, a maior repercussão do filme foi em relação ao posicionamento de seus criadores, e não a mensagem e as questões sociais que os próprios almejavam levantar. Entretanto, devido à enorme quantidade de espectadores e a atenção gerada na mídia, a veiculação do filme pôde abrir grande discussão sobre os temas abordados, o que desencadeou, mesmo com o ruído, que os objetivos de seus criadores também fossem atingidos.

Cruzando o conceito de obra aberta com Tropa de Elite

Se examinarmos Tropa de Elite, "encontraremos uma concepção da ficção como exposição da problemática de determinadas situações de tensão; propostas essas situações­ ­­­– segundo fatores sociais conhecidos, a obra apresenta-se de forma ilustrativa, estranhada, os fatos a observar, não elaborando soluções. Cabendo ao espectador então, tirar conclusões critica daquilo que viu, numa situação de ambigüidade concreta da existência social como choque de problemas não resolvidos, para os quais é preciso encontrar uma solução". A obra “aberta” como é abertura de um debate: a solução é esperada e auspiciada devendo brotar ajuda consciente do público. A abertura faz-se instrumento de pedagogia revolucionaria.


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Referencias: Apocalipticos e Integrados - Humberto Eco.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Cinema e Revolução ( "A arte como instrumento de provocação")

Descartando os “blockbusters” mais sensacionalistas, ao observarmos as novas produções cinematográficas que estão sendo lançadas no circuito atual, podemos notar que a grande maioria dos cineastas vem escolhendo e utilizando uma linguagem muito mais documental do que fictícia nas suas produções. Existem exceções, é claro, pois sempre terão roteiristas e diretores com as mais variadas inspirações, vontades e vocações artísticas. Ainda bem!
Entretanto, a tendência do momento para se produzir filmes, por mais ficção que esteja mesclada nos mesmos, não segue uma linha tão poética como de costume.

Ganhando visibilidade através dos festivais internacionais de cinema ao redor do mundo, esses filmes mais documentais que vos falo, costumam retratar e evidenciar aspectos, peripécias ou fatos que aconteceram ou acontecem em diferentes lugares do planeta. Sendo que, independente da época abordada, as historias ilustradas nesses filmes tem o intuito de elucidar nuances do comportamento humano. Dessa forma, podendo proporcionar aos espectadores, novas referencias que tendem a desencadear questionamentos frente aos assuntos abordados de uma forma mais fundamentada, consequentemente, estimulando-os a construir opiniões próprias que derivam das diferentes leituras que cada individuo faz diante do que é visto na tela.

A temática não é nova, e muitas obras primas do cinema antigo já possuíam roteiros que esboçavam grandes acontecimentos políticos e sociais. Exelentes produções como “Noite e Neblina” de Alain Resnais ou “O Pagador de Promessas” de Anselmo Duarte (por mais poéticos que esses tenham sido), ja utilizavam historias e cenarios que envolviam o tema, contudo, em meio à grande remessa que tem chegado aos cinemas em 2008, nota-se, e vem se destacando os filmes que ilustram contextos históricos com uma abordagem muito mais realistica e direta. “Gomorra”(foto abaixo), por exemplo, diferentemente da roupagem romanceada de “O Poderoso Chefão”, narra um filme-documento nu e cru sobre a máfia italiana. Já “Terra Vermelha”, sob a direção do chileno Marcos Bechi, mostra, numa mistura de ficção com documentário, uma excelente abordagem da nação indígena no Brasil como nunca foi vista antes.




A maioria dos mais importantes festivais de cinema, também andam preferindo selecionar os filmes com temática política aos que abordam e ilustram cenários mais poéticos ou espirituais, como "O Balão Vermelho”(1956) de Albert Lamorisse (por mais política que possa estar por trás desse), ou filmes como os do diretor Ingmar Bergman, e isto se deve, mais do que em qualquer outro fator, porque a arte (onde o cinema se inclui), no seu sentido mais amplo, é a expressão das percepções que um artista tem do mundo ao seu redor, e, considerando a liberdade de expressão que os artistas possuem na atualidade, e que, fatos e iniciativas humanitárias e ambientalistas nunca foram tão discutidos abertamente na sociedade, a maioria dos cineastas, ou pelo menos os que estão tendo maior destaque, estão produzindo filmes que buscam questinar o sistema político-social atual através de fatos e contextos históricos.

Uma das maiores evidencias dessa tendência são as indicações para o Oscar 2009. Pois, considerando que o Oscar, prêmio que a principio sempre prezou mais os filmes sensacinalistas produzidos pela indústria hollywoodiana, nessa edição, talvez por conseqüência do momento atual, se destacaram muitos filmes que tratam de contextos políticos, como o grande favorito “Slumdog Millionare”, e “Frost/Nixon”.

Alguns filmes indicados para o Oscar 2009:

Foi apenas um sonho” (De Sam Mandes, o mesmo diretor de "Beleza Americana").
A partir do drama de um casal que se encontra em conflitos ideologicos, o filme ilustra padrões e estereótipos almejados pelos americanos nos Estados Unidos da década de 60 e a ironia que perambulava no comportamento social do americano no período.


“O leitor” esboça o holocausto que aconteceu na Alemanha em meados dos anos 60 (Era Hitler) e as conseqüências que o governo nazista causou na consciência e "alma" dos indivíduos através da vida e relacionamento amoroso (bem inusitado) de dois personagens que estavam em lados opostos. Hanna (Kate Winslet) e Michael (David Kross), 15 anos mais novo que a atriz.


Duvida”, longa que rendeu a atriz Meryl Streep mais uma indicação ao premio de melhor atriz, retrata a vida e possíveis contradições na conduta de indivíduos dentro de um clero religioso.



Milk” (dirigido por Gus Vans Sant), com oito indicações ao Oscar, incluindo o de melhor filme, é uma produção biográfica de um ativista político homossexual, interpretado por Sean Penn (também indicado como melhor ator) que foi assassinado nos anos 70 por lutar pelos direitos humanos, no caso, com o principal foco na causa gay.

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Cinema Arte

Já o cinema dito “Cult” (denominação atribuída aos filmes mais artísticos e/ou que buscam transmitir mensagens), também vem se focando nas questões políticas. Utilizando assim, seu poder comunicativo para atuar como instrumento político-revolucionário.

Diretores de renomados movimentos cinematográficos como Jean Luc Godard (um dos fundadores da Nouvelle Vague), Wim Wenders, entre outros, vem produzindo, ao seu modo, filmes que salientam muito mais os sistemas políticos e humanistas, do que temas mais espirituais como antigamente, e assim vem seguindo a regra, vários outros bons diretores. O que pode ser conferido nos vários festivais de cinema ao redor do globo que exibem e premiam tais filmes.



A nova safra de documentarios

Enquanto isso, considerando as novas possibilidades de se filmar com câmeras compactas através do avanço da tecnologia digital, a produção de documentários nunca foi tão grande. Muitos dos novos cineastas da atualidade vem seguindo o exemplo de documentaristas consagrados, como por exemplo, as corajosas produções de Michael Moore, que revelam e denunciam problemas governamentais nos Estados Unidos, ou “Os invisíveis” (que tem co-direção do Win Wenders e produção executiva de Javier Bardem) - um impactante documentário espanhol que retrata vários problemas governamentais que afetam populações mais humildes e extremamente necessitadas ao redor do Globo.



Enfim, seja em filmes de ficção, documentários ou “filmes poesia”, assuntos relacionados com política e sociedade estão em foco! Sendo que mesmo que o cinema possa esboçar/expressar, no caso dos filmes de ficção ou poesia, realidades paralelas ou utópicas, grande parte dos filmes produzidos atualmente vem ilustrando assuntos que tendem a provocar os espectadores a reflexões que podem gerar criticas sociais, ou até mesmo, epifanías, ou seja, a arte que vem sendo produzida hoje, como vinculada a uma conscientização humanitária, mais do que nunca, tem sede de revolução.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Flores que Murcham


Acabei de assistir um filme novo. Um pequeno curta-documentario passado no interior do Rio Grande do Norte que retrata a rara doença de Spoan, doença degenerativa que afeta pessoas que nascem da procriação entre pessoas de mesma família, como primos e irmãos.
Talvez o filme, intitulado “Flores que Murcham” (inspirados num poema de um jornalista potiguar), não seja visto por muitos. Talvez até, apenas por quem acabou de assistir o programa “Revelando os Brasis” no canal Futura, porém acredito que ele tem o poder de tocar profundamente quem tiver a oportunidade de assisti-lo.


Dirigido e idealizado por Antonio Filho, um morador de Serrinha dos Pintos, uma das cidades em que o filme foi rodado, o curta teve o estimulo e patrocínio da instituição privada Marlin Azul, a partir de um projeto que da apoio a produção cinematográfica amadora em municípios brasileiros com menos de 20 mil habitantes, que, com apoio do canal "Futura", após serem concluídos (quando selecionados), são televisionados num programa especial chamado "Revelando Brasis" dentro do canal Futura.

“Flores que Murcham”, é uma metáfora que se refere as pessoas que possuem a doença de Spoan e seus respectivos sonhos, que mesmo que infelizmente, dificilmente "desabrocham", são eles dão força a elas. As pessoas que tem a doença nascem aparentemente "normais" e saudáveis, porém, conforme vão crescendo e se desenvolvendo, vão perdendo parte da visão, a possibilidade de andar e tem oscilações na fala. Todavia, suas mentes não sofrem nenhuma ação da doença em si. na grande maioria das vezes vivendo de utopias e dependendo de amigos e familiares para seu sustento e carinho.


O curta me lembrou muito o filme “A gente é para o que nasce” dirigido por Roberto Berliner Leonardo Domingues, que retrata a vida de três mulheres cegas, também nascidas no sertão brasileiro, que mesmo com suas dificuldades físicas e financeiras, seguem um sonho, explorando uma vontade e talento mútuos, o de cantar. Mas não por semelhança na doença, mas como ambos os filmes retratam historias relacionadas com alguma deficiência, dificuldades sociais e afetivas que algumas pessoas têm de passar sem ter muito o que fazer, lembrei-me das sensações e reflexões que tive após ter assistido o longa, que foi muito parecida com a do curta que vos falo.
Filmes como esses, nos despertam nosso lado mais humano. Podendo servir não só para sabermos mais sobre nossa raça e mundo, como para valorizarmos mais o que cada um tem. Faz nos repensar e questionar um pouco de toda a alienação e pressão que a sociedade nos impõe, e nos voltarmos mais para nossa essência,. Trazendo mais humildade em nossos corações e ações para com os outros.

Através do filme, refleti também como o sistema capitalista pode ser duro e alienador. Porém, o mais importante em identificar, é que ele é algo inventado, um sistema que, ditado por alguns e seguido por outros, uma modo de vida foi inventado, uma pode ter nascido, mas nada disso é "real". Não podemos nos deixar sentir pressionados, nos limitando e nos bloqueando, e desistirmos dos nossos sonhos por alienações publicitárias (no mundo atual, faz-se necessário filtra-las), mas sim agradecer o que temos, colocar nossos pés no chão, e mantermos nossos sonhos nas alturas, pois na maioria das vezes, são eles que nos movem e que nos dão força de viver.

Poema:

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa
(Ricardo Reis)

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.


O Projeto

O projeto que deu origem ao filme se realiza primeiramente através de uma seleção de historias enviadas para o endereço do programa no canal Futura, adiante, são escolhidas historias e roteiros para serem patrocinados pela iniciativa, que produz curtas que vão de ficção a documentários, o que torna o sonho de muitos, realidade então. Proporcionando ao espectador do canal conhecer mais sobre a diversidade cultural e geográfica do país, alem do imaginário dos participantes, e o impacto da produção dos curtas nas comunidades em que são realizadas.



segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Educação Musical passa a ser disciplina obrigatória nas escolas.


Segundo a Lei nº 11.769, publicada no Diário Oficial da união no dia 19 de agosto de 2008, a Educação Musical passa a ser disciplina obrigatória nas escolas publicas e particulares do ensino médio e fundamental no Brasil.

A partir da nova Lei, a música passa a ser o único conteúdo artístico obrigatório a ser lecionado nas escolas publicas e particulares, mas não exclusivo, com um prazo de três anos para a adaptação.

Segundo Helena de Freitas, coordenadora geral de Programas de Apoio à formação e Capacitação Docente de Educação Básica no Ministério da Educação em depoimento para o portal “Terra”: “A lei não torna obrigatório o ensino em todos os anos, e é isso que será articulado com os sistemas de ensino estaduais e municipais. O Objetivo não é formar músicos, mas oferecer uma formação integral para as crianças e a juventude. O ideal é articular a musica com as outras dimensões da formação artística e estética.”

O objetivo do Ministério da Cultura na presente aplicação, é proporcionar, alem de noções básicas de musica, que os alunos aprendam mais sobre a cultura regional do pais, conhecendo melhor a diversidade cultural brasileira através da musica. Sendo que o desafio agora é a capacitação dos professores para o cargo.

Como registrado no novo plano de governo do Ministério da Cultura: “A estreita relação entre educação e cultura nos processos de formação da cidadania, ressalta o caráter indispensável das ações de integração das manifestações intelectuais e artísticas nas praticas pedagógicas de ensino formal e informal.”

A educação musical teve inicio nas escolas brasileiras a partir do século 19, e desde então, passou por varias reformulações estratégicas ao longo dos anos. Novas definições, estruturas e ideologias - embasadas nas artes e na diversidade cultural brasileira - foram adaptadas e agregadas no método aplicado na rede de ensino. Seja através do canto, da dança, da musica instrumental ou folclórica, a Educação Musical sempre esteve presente no ensino médio e fundamental no Brasil, mas, a partir de 20 de dezembro de 1996, quando foi aprovada a Lei nº 9.394, a musica passou a ser apenas conteúdo optativo na rede de ensino, com responsabilidade pedagógica das secretarias estaduais e municipais de educação, as escolas podiam articular aleatoriamente o conteúdo artístico (artes visuais, musica, teatro e dança), a suas próprias maneiras, sem obrigação de ensinar todas.

A musica é um poderoso instrumento para beneficiar o sistema educacional, pois alem proporcionar educação ao aluno, através da historia da musica, seu contexto político e cultural e comportamento, o ensino em pratica, como o canto e a aprendizagem dos instrumentos, propicia um melhor desenvolvimento cognitivo da criança. Dessa forma, com a Educação Musical voltando a ser conteúdo obrigatório em todas as escolas do Brasil, a educação no país ganha um programa de referências e aprendizado a mais.

Antes da publicação da novo regulamento, num discurso feito pelo ministro da Cultura, Juca Ferreira (grande incentivador da mesma) fez o seguinte comentário: “Caetano tem uma musica que diz assim: ‘Como é bom poder tocar um instrumento’... Acho que é na musica Tigresa. Porque isso não é disponibilizado nas escolas publicas? Já foi, mas deixou de ser, por um erro de concepção de educação, apenas como a formação do mercado de trabalho.”

Porem agora, depois da aprovação da Lei nº 11.769, que obriga a introdução da disciplina musical, as redes de ensino terão três anos para se adaptar, sendo que a partir de 2011, aEducação Musical volta como conteúdo obrigatório nas escolas do Brasil.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Jogo de Cena


Ontem assisti o mais recente filme do Coutinho, "Jogo de Cena", e me emocionei bastante. É impressionante como o diretor consegue, em cada novo trabalho, se auto-renovar e nos desencadear emoções e reflexões que nos proporcionam diferentes olhares para o mundo. Eduardo Coutinho, que já fez tantos filmes bons, como "Edificio Master" ou "Cabra marcado para morrer", agora nos presenteia com mais uma obra que nos faz pensar a realidade e o comportamento humano de forma profunda e delicada.

Em "Jogo de Cena", ele construi uma mistura de realidade e ficção na tela. Sendo que logo no inicio do filme, ele apresenta a própria proposta do longa, estampado num muro de rua um cartaz com a seguintge mensagem: "CONVITE: Se você é mulher com mais de 18 anos, moradora do Rio de Janeiro, tem hístorias pra contar e quer partcipar de um documentário, procure-nos", dando dois telefones para contato".
A partir dos telefonemas das interessadas e uma seleção das mesmas, Coutinho estrevistou e filmou exentricas mulheres, ou comuns, depende do ponto de vista, num teatro do Rio de Janeiro.
Com muita fidelidade ao enunciado fílmico em questão, Coutinho fez um "Jogo de Cena" muito bem montado, contendo grandes historias, de grandes mulheres. Articulando e intercalando, entre cenas em que as mulheres selecionadas contam suas historias, atrizes convidadas para interpretar o papel de algumas das historias de outras das selecionadas. Porém, o mais bacana desse "jogo", é que chega um momento em que o espectador pode se confundir quem é a dona da historia real e quem é a interprete. Uma porque algumas das atrizes contam algumas de suas próprias historias, e outra porque algumas atrizes não são tão conhecidas pelo publico. O que acaba proporcionando um entretenimento a mais ao publico, pois quando o espectador começa a perceber o jogo, é estimulado a tentar descobrir de quem é a historia, quem é a atriz, e de quem é o depoimento, mesmo que todos esses venham de depoimentos reais.

Enfim, a partir de uma proposta inovadora e extremamente original, "Jogo de cena" coloca o espectator frente a historias marcantes que, além de que poderiam sugerir diferentes roteiros para produzir dignos longa-metragens baseados em cada uma delas, estimulam-os a relacionar e perceber a vida das mulheres contadas na tela às próprias vidas. Uma obra que nos faz pensar tanto o mundo que vivemos quanto nossas trajetorias dentro dele.