Entretanto, a tendência do momento para se produzir filmes, por mais ficção que esteja mesclada nos mesmos, não segue uma linha tão poética como de costume.
Ganhando visibilidade através dos festivais internacionais de cinema ao redor do mundo, esses filmes mais documentais que vos falo, costumam retratar e evidenciar aspectos, peripécias ou fatos que aconteceram ou acontecem em diferentes lugares do planeta. Sendo que, independente da época abordada, as historias ilustradas nesses filmes tem o intuito de elucidar nuances do comportamento humano. Dessa forma, podendo proporcionar aos espectadores, novas referencias que tendem a desencadear questionamentos frente aos assuntos abordados de uma forma mais fundamentada, consequentemente, estimulando-os a construir opiniões próprias que derivam das diferentes leituras que cada individuo faz diante do que é visto na tela.
A temática não é nova, e muitas obras primas do cinema antigo já possuíam roteiros que esboçavam grandes acontecimentos políticos e sociais. Exelentes produções como “Noite e Neblina” de Alain Resnais ou “O Pagador de Promessas” de Anselmo Duarte (por mais poéticos que esses tenham sido), ja utilizavam historias e cenarios que envolviam o tema, contudo, em meio à grande remessa que tem chegado aos cinemas em 2008, nota-se, e vem se destacando os filmes que ilustram contextos históricos com uma abordagem muito mais realistica e direta. “Gomorra”(foto abaixo), por exemplo, diferentemente da roupagem romanceada de “O Poderoso Chefão”, narra um filme-documento nu e cru sobre a máfia italiana. Já “Terra Vermelha”, sob a direção do chileno Marcos Bechi, mostra, numa mistura de ficção com documentário, uma excelente abordagem da nação indígena no Brasil como nunca foi vista antes.

A maioria dos mais importantes festivais de cinema, também andam preferindo selecionar os filmes com temática política aos que abordam e ilustram cenários mais poéticos ou espirituais, como "O Balão Vermelho”(1956) de Albert Lamorisse (por mais política que possa estar por trás desse), ou filmes como os do diretor Ingmar Bergman, e isto se deve, mais do que em qualquer outro fator, porque a arte (onde o cinema se inclui), no seu sentido mais amplo, é a expressão das percepções que um artista tem do mundo ao seu redor, e, considerando a liberdade de expressão que os artistas possuem na atualidade, e que, fatos e iniciativas humanitárias e ambientalistas nunca foram tão discutidos abertamente na sociedade, a maioria dos cineastas, ou pelo menos os que estão tendo maior destaque, estão produzindo filmes que buscam questinar o sistema político-social atual através de fatos e contextos históricos.
Uma das maiores evidencias dessa tendência são as indicações para o Oscar 2009. Pois, considerando que o Oscar, prêmio que a principio sempre prezou mais os filmes sensacinalistas produzidos pela indústria hollywoodiana, nessa edição, talvez por conseqüência do momento atual, se destacaram muitos filmes que tratam de contextos políticos, como o grande favorito “Slumdog Millionare”, e “Frost/Nixon”.
Alguns filmes indicados para o Oscar 2009:
“Foi apenas um sonho” (De Sam Mandes, o mesmo diretor de "Beleza Americana").
A partir do drama de um casal que se encontra em conflitos ideologicos, o filme ilustra padrões e estereótipos almejados pelos americanos nos Estados Unidos da década de 60 e a ironia que perambulava no comportamento social do americano no período.
“O leitor” esboça o holocausto que aconteceu na Alemanha em meados dos anos 60 (Era Hitler) e as conseqüências que o governo nazista causou na consciência e "alma" dos indivíduos através da vida e relacionamento amoroso (bem inusitado) de dois personagens que estavam em lados opostos. Hanna (Kate Winslet) e Michael (David Kross), 15 anos mais novo que a atriz.
“Duvida”, longa que rendeu a atriz Meryl Streep mais uma indicação ao premio de melhor atriz, retrata a vida e possíveis contradições na conduta de indivíduos dentro de um clero religioso.
“Milk” (dirigido por Gus Vans Sant), com oito indicações ao Oscar, incluindo o de melhor filme, é uma produção biográfica de um ativista político homossexual, interpretado por Sean Penn (também indicado como melhor ator) que foi assassinado nos anos 70 por lutar pelos direitos humanos, no caso, com o principal foco na causa gay.
